quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

DEZ BANHEIROS



Parece esquisito né! Mas o mote é esse mesmo.

Tava eu cá no meu trabalho de todo santo dia, Na minha lojinha uma localização muita da danada de boa, devo dizer, estrategicamente amuntado no pedacinho mais coisado da rua 7!
Pra quem conhece, sabe que aqui passa, e para, de um tudo, um pouco, só não parou ainda um porco! Mas quem sabe.

Esse é o causo da mulher mais trabalha-deira de Vitória, quiçá, do mundo.

Num dia qualquer, não precisa ser um dia especial pra aparecer gente doida de todo o tipo por aqui não, estou eu conversando com meu amigo-irmão, camarada Fernando quando chega uma figura esquálida, falando rápido e sem entremeios nem pedindo licença interrompe nosso papo cabessáurio e vai laigando;

- O senhor tem banheiro aí?

Sinceramente eu pensei mui rapidamente que a mulher queria utilizar meu aparelho sanitário combalido, mas limpinho. Pensei se dizia sim ou não e antes que eu desse a resposta na risca, ela continuou.

- É que eu já lavei 10 banheiros a um real hoje e to precisando de dinheiro e se o senhor tiver um banheiro eu lavo por um real!

Pronto! Cuns seiscentos diachos! Olhei pra cara do Fernando, ele espiou pra minha, nós dois espiamos pra cara da dita cuja e estávamos assim, como direi, estupefactos!
Eu devo ter balbuciado alguma coisa incompreensível e o Fernando mais atento e vivido, foi logo arrebatado pelo cumprimento do dever social e disse;

- Eu vou lhe ajudar!
Ela respostou;
- Muito obrigado, qualquer real ou banheiro ou agradeço.

Eu ainda sem saber o que danado tinha acontecido tava que nem João bobo processando aquela informação de que a mulher tinha lavado 10 banheiros por um real!
Puta merda!

Ela tinha uma cara esquisita, olho pequeno, meio sardenta, meio cara de fuinha, devo relatar, para que você entenda melhor o reforço de minha não reação ao acontecido. Tudo levava a uma situação muito coisada.
Fernando pegou a mulher pelo braço, segurou como quem segura um menino que se quer ajudar ou tirar de uma situação vexatória.
Me disse baixinho;

- Vou levar ela ali no barzinho, tem uns banheiro sujos quem sabe o fulano pague pra ela limpar!
Eu tava tão incrível que nem captei o que danado de solução era aquela. Mas afinal, era uma solução.
Pronto! Os dois saíram, foram rua a fora e eu continuei o meu dia dentro da maior e melhor anormalidade reinante.

O tempo passou, eu nunca mais vi a tal mulher.

Pra que o entendimento fique mais fácil vou dizer que moro no centro, trabalho no centro e minha vida é boa e animada por aqui.
Moro num apartamentozinho pequeno que eu carinhosamente apelidei de bat-caverna! Só pra você sentir o drama.
O prédio é antigo, sujo, mal cuidado, uma merda.
Já reclamei, já falei e nada!
A limpeza do hall de entrada não é feita nunca, o elevador vive sujo e a área comum aos apartamentos do meu andar é empoeirada e encardida!
Tornei a reclamar com a administradora coisa e tal e nada!
A faxineira do prédio que deveria cuidar dessa tarefa mora na cobertura, nunca fui lá, mas acho que deve ser um apartamentozinho chinfrim caindo aos pedaços, penso eu.
Vez por outra me encontro com ela. A danada fala pra caramba, fala até pelos cotovelos. Tem uns dois filhos e um marido de cara emburrado, mal educado que não dá nem bom dia. Acho que é por viver com ela.
Certa noite eu tava chegando a casa quando ela me pegou na entrada do elevador.

- Nossa Senhora da Penha me guarde! Que bom encontrar o senhor, eu tava precisando encontrar uma pessoa de bem pra me ajudar, o senhor pega essa minha carteira de identidade aqui e me empresta 9,90 preu pegar umas coisas minhas!
- Infelizmente não dá os bancos estão em greve há dias que eu não vejo dinheiro. Não tenho um centavo. Me saí com essa.
- Mas não dá nem pro senhor arrumar aí uns 2 reais?
- Não infelizmente não! Boa noite, tchau.

Ela ficou assim meio que sem graça e eu entrei no elevador e dei o fora Dalí!
Puta merda, a mulher é descarada demais. Se pelo menos ela limpasse meu andar...
Fiquei puto.

Passou.

Outro dia, ia eu pra casa a tal da pseudo faxineira do meu prédio me pega no meio da rua. Foi engraçado.
Ela chegou por trás, me assustando, eu apressei o paço, ela apressou também, e começou!

- Eu conheci sua mãe, ela é bacaninha demais.
- É!
- Nossa conversamos muito gente boa gostei muito dela...

Enquanto ela metralhava com a verborréia paulificante, e eu já sabendo que vinha um pedido de grana, já fui pensando em entrar numa loja ou alguma manobra pra me livrar da mala! Quando vejo uma amiga paro! Inicio uma conversa sem pé nem cabeça e deixo a doidaça seguir.
Quando vi que ela tinha desaparecido lá na frente me despedi de minha amiga e segui caminho.
Quando vou chegando pra abrir a porta da entrada do prédio à mulher “PUF”! Aparece do nada feito Mandrake! E com uma menininha a tiracolo.
Caraio! Eu corro pro elevador e ela me segue, eu num comportamento bestial me vejo obrigado a segurara a porta do elevador pra ela entrar!
Ela diz;

- Ta vendo minha filha ainda tem homi cavaleiro no mundo!

Pronto! Aquilo me arrepio a espinha.
Ela emendou a falar e dizer que tava precisando de dinheiro etc coisa e tal, a minha sorte é que eu moro no 3º, chegou logo.
Eu me despedi e saí Dali que nem um raio.

Passou outro tempo!

Hoje, to eu trabalhando (Que nem um condenado) e por necessidade fiquei até mais tarde da noite, to eu cansado, caindo aos pedaços, quando sou tirado de minha concentração por um grito na rua;

- EU CONHEÇO VOCÊ!

Eu olho e não acredito era ela!

- Olha que sorte a minha é aqui que você trabalha NE! Olha só eu to chegando agora mesmo da rua e to desesperada porque eu tenho que tirar meus documentos e só falta a minha carteira de identidade e não tenho um tostão!
- Mas a essa hora você não tira mais carteira não! Ta fechado.
- Pois é mas amanhã bem cedinho eu venho pra tirar carteira e preciso que você me ajude! EU JÁ LAVEI 10 BANEIROS A UM REAL, e to precisando que você intere com 9,90 preu ir tirar minha carteira!
- A carteira é de graça! Você sabe disso?
- Sei mas eu preciso pegar umas coisas....

Agora fui eu que disse; “Nossa Senhora da Penha”!
Olhei pra mulher e não acreditei.
Pra ela pelo menos, eu devo ter a maior cara de babaca.
De cara me lembrei de Fernando todo solícito indo arrumar banheiro pra mulher lavar!
Olha só que é a danada.

Disse algo, me desculpei por não ter dinheiro (e não tinha mesmo), e ela retrucou;

- Você não tem pelo menos uns dois reais ou um banheiro preu lavar?

Será que é o fim?

Nenhum comentário: