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CEP: 29015-000
Vitória/ES.
Essa resenha foi a primeira. Escrita em meados de 2007, quando resolvi assumir meu posto de Pai-em-chefe, do meu menininho que acabara de dar sinais que viria ao mundo em breve, entre uma coisa e outro negóço! Fui (E continuo) a observar as peculiaridades dessa que é sem dúvida, uma das ruas mais “interessanctes” desse e de outros mundos.
Numa breve pesquisa sobre a rua 7, motivado pelo desejo de mais precisão além dos pitorescos acontecimentos, fui pouco contemplado pelo menos internecticamente falando. Muito superficial o que está a disposição sobre esta tão afamada rua do centro da cidade de Vitória do Espírito Santo.
A vila de vitória que surgiu lá pelos meados de 1555, que naquela época seria a vila nova, pois a velha já existia, assim como existe até hoje. Começou por cima da carne seca, pelo menos por cima da carne seca dos carangueijos que habitavam os mangues que permeavam Vitória desde os seus primórdios e que foram a exemplo Holandino, soterrados, aterrados ou enterrados como queira o freguês.
A nossa querida rua 7 de setembro só surgiu um bom tempo depeois e nos inicialmente citando Odorico Paraguassú, era uma rua destinada a moradia dos servidores ou funcionários públicos de então.
O tempo passa, o tempo voa e nos vemos na atualidade vivencial do século XXI, nesta modernosa e tradicionalista (assim como são as ruas, são as criaturas que nelas habitam e transitam) Rua 7 de Setembro, a rua do calçadão.
A primeira vez que fui a rua 7 cheguei pela Av. Beira Mar, passei pelo Teatro Carlos Gomes e pela Praça Costa Pereira e estacionei o carro quase em frente a ela. Estão vamos fazer este breve passeio começando por este trecho.
Vê-se logo o calçadão e como portais do lado direito um prédio rosáceo que no seu térreo é uma farmácia e nos andares superiores funciona um Hotel e Restaurante desses que se encontram em todo centro, baratinho, classe econômica 5 estrelas (a menos). A freguesia é dez, trabalhadores do porto, viajantes, putas e coisas do gênero. Mais recentemente começou uma sessão musical aos domingos que é pra lá de boa demais, um sujeito tocando violão com amplificação, voz ruim, afinação pior e assim aos domingos a noite podemos nos deleitar com uma sessão (que não é espírita) de repertório variado que vai desde axé, passando pela MPB, segue pelo brega e outros sucessos totalmente desconhecidos do hit parade da Rua 7.
O bom disso tudo é que o pessoal da música do hotel faz tanto barulho que força os crentes da Igreja da Assembleia de Deus fecharem as janelas, o que não é mau, pois assim somos privados das cantorias em rítimo macumbístico da "taquara rachada", mas, isso vem mais adiante.
Logo na porta de entrada do hotel avistamos um pequeno quadro de avisos com os dizeres escritos a giz amarelo "Almoço completo por R$ 8,00". Três andares malajambrados, decadentes onde nota-se ventiladores a toda velocidade balançando no teto (só de ver os ventiladores você já sente o calor) e gente descamisada numa sacada central que dá vistas para a praça, cassolas e cuecas entre outras peças íntimas ou não debhuçadas nos parapeitos das janelas, é o chique.
Do outro lado do pórtico adentrante um outro prédio verdelino de arquitetura um pouco mais recente onde funciona em seu andar térreo uma das tantas e tantas, e tantas óticas que atendem (modo de falar pois além de muitas, as óticas vivem as moscas). No primero pavimento dessa construção insossa funciona um templo religioso de denominação complexa e extensa, mas que tem o codinome de "Assembléia de Deus". Logo notamos que os ventiladores lá também funcionam a todo o vapor. Lugarzinho animado esse. Para continuar falando sobre o tal templo, tabernáculo e casa de festas, tenho que fazer uma ressalva, coladinho, lado com lado tem um prédio onde figura a data de sua construção que é de 1927. Neste prédio mais antigo que o outro, funciona uma agência bancária no térreo e acima um centro espírita. Não dá pra não pensar não é mesmo. De um lado um templo que "cuida" dos vivos, vizinho um lugar a couidar das "almas" e abaixo a morada da matéria em espécie.
Como dzia, a igreja está alí com suas paredes decoradas com bandeiras de países diversos e que funciona todos os dias, de segunda a segunda, quando chega a tardinha as janelas se abrem e começam os trabalhos. E que trabalhos, olha se existe uma gente que "ora, pois" e trabalha pra ganhar o reino dos céus é aquele povo. Principalmente a cantora que puxa o coro dos "desencantados e a serpente desafinada" como chamarei tal furdunço. A mulher é desafinada, sem ritimo, voz de taquara rachada, rádio mono mal sintonizado, pobre criatura, não ela, pois ela e os compaheiros de jornada não estão nem aí pro cantar siriêmico desafinadístico, gritante. Pobre de quem é surpreendido com tal misto de grito do Tarzam, chita, gemido de surucucú e o barulho do trem virado isso só pra dar uma idéia da cantoria pois na verdade pra desfrutar de tal momento só ouvindo pra crer que alguém possa ferir tanto os ouvidos como esta senhora é capaz. Creio que ela deveria gravar a versão gospel de "Tô nem ai". Quando ela começa a cantar tem um irmão que é o percussionista, e ele fica posicionado bem na janela que dá para a rua e fica ao lado do centro espírita. O danado toca atabaque, e lhe digo com certeza, com um toque daqueles, um marcação rítimica precisa e característica ou ele é oriundo do candomblé ou quer ir pra lá.
Com o passar dos dias notei que apesar de haver cantoria todos os dias, tem dias em que a cantoria e o batuque é mais forte, mais alto, mais marcado e o canto da taquara rachada é mais estridente. Isso me chamou tanto a atençao que fiquei a estudar o porque destes picos de latumia.
- SAI SATANÁS!
Coinscidentemente percebí que tais alterações sônicas se dão justamente nos dias em que o centro espírita realiza suas sessões públicas, as segundas e quintas, no mesmo horário e no mesmo bat-local.
Muito bem, "coincidências" a parte chego a ter pena dos velhinhos que se reunem em sua sede desde 1927, e que tem que enfrentar o furdunço desafinado de uns tempos pra cá. Mas quem manda ser espírita! Tem que ser resiguinado.
Disto tudo o mais surpreendente é ver o semblante assustado e surpreso das pessoas que transitam pela rua na hora da cantoria e o susto que levam ao serem intepelado pelo grito da puxadora. O pessoal fica meio atarantado meio que "perdidos no espaço" levantando a cabeça, procurando de onde diabos vem aquele som do cabrunco.
Já entramos na rua 7, agora vamos camihar mais um pouco e ai poderemos notar o comércio existente, como já disse, muitas óticas, mais óticas e umas outras óticas mais adiante, entremeando as óticas tem uns armarinhos, e lojinhas de lingerie (que não vejo ninguérm entrando) e tem uma loja de semi-jóias que tem como maior atração o ligar e desligar do alarme, por parte do seu dono, que me parece ter o maior tesão em ficar apitando aquele troço.
Talvez tal evento só perca para as duas gaiolas contendo um canário belga em cada que o dedicado ornitólogo folheante pendura e retira todo santo dia. Ah! Tem as atendentes, lembrei das garotas agorinha mesmo, são duas, jovens, magrinhas mas bem servidas, ficam o dia inteiro a varrer, passar o pano na loja e quando a guarda municipal passa é um acontecimento, os gualdas entram, sentam e proseiam sem pressa, as meninas sorriem para quebrar o tédio.
Depois vem mais umas óticas. Um comércio direcionado, creio que a rua sete poderia bem se chamar "Rua da boa vista", "Rua N.Sra. da Boa Luz" ou ainda "Rua Sta. Luzia" ou calçadão dos ceguetas, mas deixa isso pra lá.
Já na metade do primeiro trecho da rua 7 observamos também que por se tratar da região central, apesar deste fenômeno não se repetir na maioria das cidades, a rua 7 é bastante residencial, muitos prédios de apartamentos onde não mais os funcionários públicos exclusivamente residem mas toda a espécie de gente (principalmente os que gostham daquele meio ambiente). Tem um senhor aposentado que ouve jazz em alto e bom som, e de madrugada ele coloca sinfonias e música clássica, tem uma senhora que só se vê a mão dela passando roupa, a mão dela puxando as cortinas e por fim a mão dela fechando e abrindo as janelas. Nunca a ví mas parece que a conheço a tempos.Como ela vive passando ferro na roupa, toda vez que a vejo passando roupa lembro do título "Por falta de uma nova, passei o ferro na velha", vai ver que é este o caso dela. Falta de ferro. Certa feita movido por tal comportamento dessa senhora cgeuei a suspeitar que ela é a Taquara rachada que latumia na assembléia. Tem uma outra senhora que adora falar ao telefone e fumar na janela, me parece ser aposentada também e ao lado da janela dela tem uns rapazes que andam sempre desnudos (Aliás é um hábito entre os homens que frequentam as redondezas, seja onde for, criança, jovem, velho, o pessoasl adora exibir os bíceps, mesmo que seja nas dobras da barriga) da cintura pra cima e fazem umas festinhas animadas até altas horas da madrugada, com direito a gritinhos e muita risadagem.
Eles ficam na janela, por vezes os dois, outras vezes um de cada vez, fumando, olhando o movimento, falando alto no celular, com aquele ar de "perdidos numa noite suja" ainda não identifiquei se os dois são um casal ou é meramente preconceito meu. Tem o casal de velhinhos fumantes que ficam espreitando na janela, assim meio de soslaio e els vez por outra são incomodados pela vizinha de cima que quando resolve lavar as janelas derrama um aguaceiro e nem lhufas pra água que entra janela abaixo e o casal de velhinhos fecham as janelas as pressas para não ter sua cortina de veludo vermelha molhada. Mais acima tem o velhinho gordo e barrigudo, descamisado também, que adora ficar olhando a rua e discutindo com o povo que passa na rua. Incrível, ele bate boca com os passantes e vez por outra o vejo na padaria tomando seu café. Ou no barzinho, solitário olhando o movimento.
Olha só o que o barrigudo apronta quando tá de ovo virado:
- TÁ OLHANDO O QUE? (O velho)
- VOCÊ COM ESSA CARA DE BESTA!
- OLHA RAPAZ VOCÊ PARECE QUE NÃO BATE BEM DA BOLA! (O velho)
E assim dá-se o rápido diálogo.
E por falar em gente a fauna da rua 7 é riquíssima. Ouví dizer que o IBAMA tá pensando em montar um escritório na rua 7 especialmente para atender a biosfera local.
Tem uma figurinha carimbada, premiada que é habituee da rua 7. Luiz, ou luizinho (O tratamento depende da intimidade). Esse com certeza dá pra servir de pesquisa ou mote para um bom livro.
Um homem de idade indeterminada, a princípio parece um simples maltrapilho esfarrapado mendigo mas, não. Luizinho é figura conhecidíssima por todos que já passaram pelo menos uma vez em sua vida pela rua 7. Não é possível que você transite pela rua 7 sem que sua alma, seus olhos, ouvidos e olfato (que fedor) não sejam tomados, invadidos pela presença de Luizinho!
Geralmente ele está na soleira de uma loja fechada (creio que pra não incomodar), ele sua indefectível roupa preta de um godô característico, imunda e rasgada, fétida e mumística. Ao se aproximar da figura o transeunte desavisado poderá ter seus olhos tomados por um súbito interesse em detectar que espécie é aquela. Cabelos imundos, enrrolados quase que petrificados só faltando as mosquinhas ao rodear (depois eu descobrí porque as moscas não ficam rodeando o cabelo do Luizinho), o rosto bem como toda a pele dele é escura, coberta de placas pretas que logo se percebe que são crostas de sujeira acumulada e petrificada (Literalmente, Luizinho só toma banho, ou melhor se molha, quando chove), talvez um caso a ser estudado pela UFES para identificar como deu-se esta mutação epitelial, pois a impressão que temos é de que a pele do Luizinho absorveu a imundice e aquilo tornou-se uma coisa só.
Um capítulo especial são as unhas. Ah! Coisa rara, nem José Mojica, o famoso Zé do Caixão chegou a tanto. Unhas enormes, compridas retorcidas, de uma cor assim meio que marrom empretecida cheias de sujeira. Uma espécie de garra de Hárpia. O interessante, e isso é um espetáculo a parte é ver Luizinho coçar os cabelos encaracoladinhos (vou usar este diminutivo pra chocar mais) com as pontinhas das unhas. Seria tétrico se não fosse tão nojento.
Creio que ele tem algum tique ou problema neurológico pois fica o tempo todo tremendo os dedos num abrir e fechar altamente estranho.
Luisinho fuma. E está sempre acompanhado de uma misteriosa garrafa meio que encoberta por um saco de papel que eu não sei do que se trata mas pelo odor característico de alcool que exala, penso eu que deve ser isso mesmo. Alcool! Olha só o perigo. Luizinho, cigarro e alcool, o DETRAN, ou outro orgão competente deveria realizar uma blitz por estas plagas para fazer uma campanha sobre tal tema pro Luizinho.
Mais adiante eu me deparei com a figura, seu cigarro e a garrafinha e qual não foi minha surpresa quando ele gritou a plenos pulmões;
CACHAÇA! É cachaça, e por que não bebe-la (Em português claro e boa concordância).
Já que Luizinho foi apresentado devo agora descrever o mais interessante sobre tal figurinha. Seu comportamento.
Luizinho senta-se na soleira e fica calado por um longo tempo, contemplativo, observante. Lá pras tantas ele após muita observação e contemplação (acredito que isso deve encher o saco dele) resolve começar uma ladainha pornofônica característica que é composta principalmente pelas seguintes frases:
- VÁ TOMAR NO CÚ
- PUTA QUE PARIU
- BUCETA
- CARALHO
- PORRA
- DESGRAÇADOS
E a partir desta nomenclatura oficial ele faz algumas combinações, sem muita criatividade nem variação e discorre arreganhadamente em alto e bom (na verdade aos gritos) som sobre as partes íntimas e algumas implicações fisiológicas para a surpresa e arrepios de alguns passantes mais despreparados.
Isso ocorre invariavelmente todo dia na rua 7, pela manhã, a tarde e a noite. Basta o Luizinho querer animar a festa e dar a graça de sua presença.
Ele fica com o olhar fixo a frente e grita, berra e os que não o conhecem pensam que quilo é com quem tá passando, ai a graça, tem muita gente que reage!
- Olha o respeito rapaz!
- CARALHO!
- Você não está vendo que tem criança!
- VÁ PRA PUTA QUE PARIU CARALHO!
- Olha a minha mulher rapaz.
- BUCETA! PORRA...PUTA QUE PARIU.
Os que já privam deste deleite passam e gritam:
- Tá estressado Luizinho!
- PUTA QUE PARIU, PORRA!
- Alguém mexeu com você?
- ESSA BUCETA DA PORRA!
Outros mais respeitosos dizem apenas:
- Seu Luiz!
Ela fica impávido! Nem pisca. O maior desprezo.
E assim vai, dia a dia Luizinho e seu linguajar semi-erudito que encanta os passantes com sua intervenção no calçadão da rua 7.
Mais detidamente começei a observar Luizinho e até viajei pois notei que fora a linguagem chula e pornofônica, Luizinho articula bem as palavras usa os verbos e adjetivos ou seja, Luisinho em alguma época deve ter tido alguma educação formal. Outra coisa que começou a me chamar atenção é o cuidado que ele tem em não gritar tais atrocidades quando da presença de policiais militares ou da guarda municipal. Outro dia fiquei especialmente curioso pra ver qual seria o comportamento dele quando uma freira, sem hábito tracional, mas com um roupa e crucifixo característico de uma religiosa aproximou-se. Pensei qual seria a dele e como seria a reação da irmã!
Para minha surpresa, Luizinho parou de vociferar e respeitou a passagem da irmã sem pronunciar uma palavra sequer.
Mas, esporadicamente ele conversa!
Este diálogo reproduz um momento raro em que Luizinho se permite interagir com o mundo esterno e uma outra pessoa. Um senhor aproximou-se dele e o papo foi mais ou menos assim.
- (Luizinho) Tô precisando de 10 centavos.
- Você tá devendo na praça?
- Toda minha dívida é 10 centavos!
- Tá devendo 10 centavos a quem?
- Uma caixa de fósforos que e comprei.
- Tá bom, vou te dar os 10 centavos mas veja lá se não é pra comprar cachaça. Você bebe?
- Eu não! Beber faz mal ao estômago.
- É verdade, você sofre do estômago?
- Não! Meus estomago funciona muito bem, meu intestino também eu cago muito bem. (A pergunta que não cala é, ele caga onde?)
- Qur uma fruta? Eu compro umas bananas pra você?
- Não! Banana me dá azia...
Ele sabe das coisas. Ví quando a rua tava mais tranquila, ele sentado e passou uma jovem senhora do lado oposto a ele. Olha a pérola:
- ESSA BUCETA!
- ESSA BUCETA VAI E VEM!
A mulher fez que não era com ela, olhou de lado, cuspiu no chão e continuou.
- VOU PASSAR GILETE NESSA BUCETA!
Mas ja ví também em parcas ocasiões Luisinho dizer "United States of América" com boa pronúncia do inglês, e também presenciei ele falar de rua e locais da cidade de São Paulo o que me dá a impressão que ele a conhece bem.
E tem uma coisa interessantíssima! Ele não gosta de barulho, quando o barzinho da esquina tá cheio e tem som ligado (quase todos os dias até as duas da madruga) ele sente-se incomodado, e fica irritadiço e grita!
-DESGRAÇADOS, DESGRAÇADOS, DESGRAÇADOS!
Pra fechar com chave de ouro eu ví quando ele timidamente se aproximou de um lojista e perguntou:
-Tem 75 centavos ai?
-Não, tenho 1 real!
-Eu quero 75 centavos você vai me dar ou não?
Luizinho este patrimônio da rua7. Dá os seus cochilos de dia, e perambula pela noite e entremeia sua vida alegrando surpreendentemente a vida dos passantes.
Vamos caminhando.
Os porteiro do prédio são um caso a parte, vários senhores de idade, conversadores, sorridentes (Acredito que a dentadura que eles usam é tamanho GG) conhecem quase todos que passam e sempre tem alguma coisa a dizer, um comentariozinho, uma gracinha, tem um menos velho que usa uma farda característica, é uma camisa de listras azul escuro, meio desbotado e listras amarelas, dia sim e no outro também ele vem com esta fatídica camiseta. Quando nos encontramos ele sempre tem um assunto predileto comigo, o tempo!
- Hoje vai chover! (O porteiro)
- É parece que sim.
- Vai sim, ta muito quente, há 77 dias que não chove!
- É mesmo.
- Tá na hora de chover....
E quando ta frio é o frio, e assim por diante vamos mantendo nosso diálogo metereológico de tempos em tempos.
Tem o rapazinho da bicicleta, tipo entregador que todos os dias passa pela nossa rua 7, em alta velocidade desviando-se dos pedestres e recitando as escrituras em alto e bom som, é uma sensação apocalíptica. Não deixando de ser interessante.
- E ASSIM ESTÁ ESCRITO OS MORTOS SE LEVANTARÃO DE SUAS CATACUMBAS PARA RESPONDER PELOS SEUS PECADOOOOOOOOSSSS...
Ele deveria fazer parte do bloco "Cadê o bloco? Já passou".
Mais recentemente ele tem gritado constantemente:
- CORRUPTOS E SANGUESSUGAS QUERO TODOS OS POLÍTICOS NA CADEIA, VÃO MORRER! VÃO PRO INFERNO.
Mais uma figuraça.
Mais adiante, chegamos ao trecho final da primeira parte da rua 7, antes de cruzar a rua.
Este trecho não é menos importante ou interessante, passada mais algumas óticas chegávamos a uma pequena pizzaria (fechou) que era um primor.
A partir deste ponto tem um monte de mesinhas no meio do calçadão, que serviam para os clientes da pizzaria e servem ao barzinho que fica mais adiante.
Outro dia fui lá conhecer a casa (pizzaria) e fiquei estasiado. Primeiro pelo atendimento. O dono um senhor malamanhado, desalinhado e grosseiro, veio meio que a contra gosto me entregar o cardápio, resmungou alguma coisa incompreensível entre os dentes e deu as costas:
- Tem refrigerante diet?
- NÂO!
- Obrigado.
Depois de escolher chamei o dito cujo e perguntei se demoraria, ele disse que não, anotou o pedido e deu as costas. Em seguida pensei em fazer uma modificação, fui até ele temendo que o cara me destratasse. Ele etendeu, não muito satisfeito, mas atendeu:
- A massa é fina ou grossa!
- DEPENDE!
- Sim?
- Ô DONA MARIA A MASSA É FINA OU GROSSA?
- (Espeando)
- É DÁ PRA SAIR FINA!
- Não! Eu prefiro massa grossa!
- PORQUE NÃO DISSE LOGO!
- Pode ser ou tá difícil?
- É! PODE SER.
- Obrigado
Fiquei esperando por um longo tempo e começei a notar que tinha uma senhora, a cozinheira, outra mulher mais jovem, e uma terceira. Todas obesas.
Aquele tipo de obesidade mórbida engordurada. Notei então a razão, na pizzaria ele tem um pequeno balcão de sorvetes e as senhoras ficam o tempo passando em frente ao balcão, e o tempo todo comendo as coberturas, docinhos, balas que deveriam servir aos clientes, detalhe, pegam as guloseimas com a mão!
Com certeza não vou tomar sorvete alí.
Se tivesse mais disposto nem comeria a pizza.
Depois de quase uma hora e meia chega a tal pizza, engordurada que nem as donas, comí, paguei e disse adeus pra nunca mais voltar.
Chegamos então a primeira esquina, rua 7 com rua, no meio do calçadão tem uma banca de jornal de bom porte e no lado esquerdo o bar! É o "Bimbo", e como ele fica na esquina, e com um nome desses eu não poderia deixar passar o chiste "è bimbo lá e bimbo cá". Este bar é um fenômeno. O danado do bar abre de segunda a segunda de seis da manhã as duas ou tres da madrugada! Um fenômeno. Não que ele seja o bar mais movimentado do pedaço, mas tem sempre gente, tem sempre 3 a 4 mesas ocupadas e tem os habituês que marcam ponto todo dia os 3 horários. Se você passar pelo barzinho as 8 da manhã já tem uma turma tomando uma cervejinha, e assim vais até as 3 da madruga.
Se fosse só isso tava bom demais, mas tem a música, alta e variada ( bar tem umas caixas de som possantes sobre a marquise, serviço de alto-falante perde feio), um dia pode ser um hit da década de 80, outro dia pode ser um sambinha ou até mesmo "Amigos para sempre" com o José Carreras e a Monserrat Caballet. É um repertório eclético e alto. Creio que eles jamais ouviram falar numa tal de "Lei do silêncio" que obriga este tipo de estabelecimento a "baixar" o som depois das dez em área residencial. Ou então o aparelho de som não tem botão de volume, já veio assim, graduado no máximo de fábrica.
Fui lá outro dia comprar umas latinhas de cerveja, atendimento também de primeira!
-Tem latinha gelada?
- Tem!
- Quanto?
- R$ 2,50
- (Silêncio), fiquei pensando, deve ter algum erro.
- E ai?
- 2,50 uma latinha?
- Não! A GARRAFA!
- Ah! Bom, creio que me expliquei mal, eu quero latinha......
Não pude deixar de notar uma coisa que me chamou a atenção é a quantidade de clientes cotós, coxos e aleijados que frequentam o barzinho, com suas muletas, bengalas e sem braço, mas nem por isso deixam de se divertir, segurando habilidosamente os copos em seus côtos, até paquerar eu já presenciei o lance, só não sei se dá pra passar a mão na moça.
Curiosamente neste barzinho tem uma figurinha deveras interessante que é a Ya (O nome é fictício), uma menininha de uns 8 anos no máximo que diáriamente vem com um casal idoso andar em sua bicicletinha cor-de-rosa. A menininha é um raio da cilibrina, começa a andar ao cair da tarde e não para, é pra cima e pra baixo, num vai e vem constante que é de estarrecer. Os velhinhos que a trazem devem ser os avós, ficam sentados numa mesinha perto da parede e pacientemente ( a vó fica tomando uma cervejinha e o vê deve ter tido algum tipo de acidente vascular pois anda com muita dificuldade) observam o vai e vem da menininha, que fala com todo mundo, corre anda de bicicleta, logo Ya dá umas passadas nos pés do pessoal, batidas nas canelas e choques eventuais contra os passantes. Todos a conhecem, ela fala com todos inclusive com meu amigo porteiro metereológico.
Com toda certeza essa menininha daria uma boa garota propaganda da duracell, pois ela é movida por uma energia que duraaaaaaa.
Os avós são uma atração extra, a velha não tem a menor paciência com o velho e fica gritando, resmungando, dando órdens repreendendo ele a todo momento, sem nunca é claro esquecer da sua tulipa de cerveja.
Vez por outra temos o privilégio de receber a turma que desce do morrão com seus tambrins, taróis ou sei lá o que, que faz um algazarra desgraçada, isso seja qual for a hora, de preferência depois das 10 da noite.
E gritam!
E cantam!
E passam, e agente permanece.
Tem também a velha bêbada, que fica a dançar, ou bailar, como queira, importunando as mesas e ninguém reage, creio que é mais outra que tem seu livre acesso a este universo pararelo de convivência pacífica.
Eventualmente podemos contar também com a presença de uma senhora magra, esguia que hora pode estar trajando um vestido de algodão que mais parece um camisolão ou ela simplesmente pode aparecer num traje de veludo preto. Sua mumunha é conversar com as pessoas, ela se abanca ao lado de seja lá quem for, sem distinção de credo, sexo ou cor e manda ver, vai acompanhando a vítima, fala e já ví a dita cuja com o braço no ombro da pessoa escolhida numa romaria de proseio que atravessa toda a extensão da rua 7. Quando ela não está assim digamos, disposta a um bom papo, ela cata o lixo da rua. Mas não é um catar aleatório não! Ela escolhe, observa e sai carregando aquele monte de papéis e coisas que estão no chão. Outro habituee é o cara que toma todas e depois que fica no calibre começa a xingar, gritar, alterar e chamar todo mundo de covarde e grita:
- Cadê o macho da rua 7, quero ver quem tem coragem de me enfrentar!
As garçonetes do bimbo também são atrações, sempre muito simpáticas, meio lerdas ao servir e são...
...Obesas! Todas, creio que devem ser escolhidas a dedo.
Atavessamos a rua e continuamos nossa caminhada surrealista por este ambiente tão rico que é a rua 7.
Chegamos a metade do segundo trecho do calçadão, mais precisamente na pracinha, onde durante o dia um sem número de desocupados, mendigos e velhos com cara de aposentados dividem o espaço da simpática pracinha com senhoras e passantes. É aquí que Luizinho prefere tirar seu ronco de beleza, ao lado da turma de idosos que jogam damas o dia todo, lá se abanca Luiziho com a cabeça na soleira e o corpo meio inviezado na calçada dormindo o sono dos malucos beleza.
Quando chega a noite o negócio melhora na pracinha, por ela ter estratégicamente dois bares grandes que ocupam o calçadão e parte da rua com suas mesas e cadeiras a rapaziada chega pra tomar uns tragos, e a meninada vem pra praça jogar bola no campinho ou tocar seu violão, passear com seus cachorros, exibir seu peitoril marombado ou simplesmente namorar. Um dos bares tem uma mine feirinha em torno com ambulantes diversos que vendem espetinhos, bata frita, pastéis e outras iguarias. No barzinho que fica no calçadão o expediente é mais demorado, fecha ainda mais tarde que o bimbo e lá você encontra outra galera, o bar tem TV na rua, e lá dividem a audiência, homens, mulheres as mais variadas, casais e travecos. É um espaço bem democrático que fecha com chave de ouro o nosso percurso pelo calçadão da rua 7.
Creio que o descrito já seria suficiente para se ter uma idéia mais que exacta deste mundo maravilhoso e suas criaturas fantásticas, mas lembrei que os dias na rua 7 são movimentadíssimos como você pode perceber, mas as noites e principalmente as madrugadas não deixam de ter o seu charme.
Lá pelas 2 da madrugada vem a turma da limpeza!
Os garís com suas vassouras e pás de metal, silenciosas (pra não dizer o contrário) puxando seus carrinhos que fazem aquele barulho característico de ranger das rodas mal lubrificadas e o bater das pás ao deitar o lixo a ser transportado. Diria, um balé (ballet) quase clássico e com trilha sonora pela gritaria deles, o que é importante frizar.
E assim, nossos sonhos (pra quem tem este direito raro) fica sob a batuta dos garís.
Parece que tá bom né mesmo!
Tem o amanhecer.
O amanhecer durante a semana é incrível. Logo cedo tem um tal de desativar alarme de loja, sabe como é? Aquele barulhinho característico de alarme sendo desligado, identificou? Pois é todos os dias tem isso um tal de acionar e desacionar alarme que é uma jóia rara! Só que as vezes os alarme não atendem ao comando e, disparam!
- BLIIIIIIP!
- XEÊINNNNNN!
- PLINNNNNNNN!
- Tóin, tóin, tóin, tóin, tóinnnnnnnnnnnnnnnnnnnn!
Mas o responsável logo depois das sirenes serem acionadas consegue resolver o caso e pronto! Tudo resolvido. Isso pel manhã, até umas 9 e meia, pois tem algumas lojas que abrem mais cedo e outras vão abrindo mais tarde. Isso quando os tais alarmes não resolvem disparar em plena madrugada do fim de semana!
E por falar em fim de semana.
O amanhecer do domingo é especial.
Chega o domingo. Dia de descanso.
Dormir um pouco mais é o desejo de todo pagador de impostos, cidadão contribuinte. Qual o quê.
Tem um filho de uma donzela, que trabalha na no departamento de limpeza e autoriza ou comanda o caminhão de lavagem da Rua 7 a começar seu trabalho com seu motorzinho funcionando a toda potêcia, roncando mais do que pororoca do amazonas pra fazer a bomba dágua ter mais pressão, as 6 da manhã!
Bom eu já tô acordado mesmo só me resta ficar escutando de minha janela o papo construtivo, útil e erudito dos funcionários da limpeza pública.
Por isto a rua 7 é minha rua. Quando eu e os outros moradores finalmente morrermos, iremos diretamente pro céu! Pois o purgatório e o inferno, agente já conhece.
CEP: 29015-000
Vitória/ES.
Essa resenha foi a primeira. Escrita em meados de 2007, quando resolvi assumir meu posto de Pai-em-chefe, do meu menininho que acabara de dar sinais que viria ao mundo em breve, entre uma coisa e outro negóço! Fui (E continuo) a observar as peculiaridades dessa que é sem dúvida, uma das ruas mais “interessanctes” desse e de outros mundos.
Numa breve pesquisa sobre a rua 7, motivado pelo desejo de mais precisão além dos pitorescos acontecimentos, fui pouco contemplado pelo menos internecticamente falando. Muito superficial o que está a disposição sobre esta tão afamada rua do centro da cidade de Vitória do Espírito Santo.
A vila de vitória que surgiu lá pelos meados de 1555, que naquela época seria a vila nova, pois a velha já existia, assim como existe até hoje. Começou por cima da carne seca, pelo menos por cima da carne seca dos carangueijos que habitavam os mangues que permeavam Vitória desde os seus primórdios e que foram a exemplo Holandino, soterrados, aterrados ou enterrados como queira o freguês.
A nossa querida rua 7 de setembro só surgiu um bom tempo depeois e nos inicialmente citando Odorico Paraguassú, era uma rua destinada a moradia dos servidores ou funcionários públicos de então.
O tempo passa, o tempo voa e nos vemos na atualidade vivencial do século XXI, nesta modernosa e tradicionalista (assim como são as ruas, são as criaturas que nelas habitam e transitam) Rua 7 de Setembro, a rua do calçadão.
A primeira vez que fui a rua 7 cheguei pela Av. Beira Mar, passei pelo Teatro Carlos Gomes e pela Praça Costa Pereira e estacionei o carro quase em frente a ela. Estão vamos fazer este breve passeio começando por este trecho.
Vê-se logo o calçadão e como portais do lado direito um prédio rosáceo que no seu térreo é uma farmácia e nos andares superiores funciona um Hotel e Restaurante desses que se encontram em todo centro, baratinho, classe econômica 5 estrelas (a menos). A freguesia é dez, trabalhadores do porto, viajantes, putas e coisas do gênero. Mais recentemente começou uma sessão musical aos domingos que é pra lá de boa demais, um sujeito tocando violão com amplificação, voz ruim, afinação pior e assim aos domingos a noite podemos nos deleitar com uma sessão (que não é espírita) de repertório variado que vai desde axé, passando pela MPB, segue pelo brega e outros sucessos totalmente desconhecidos do hit parade da Rua 7.
O bom disso tudo é que o pessoal da música do hotel faz tanto barulho que força os crentes da Igreja da Assembleia de Deus fecharem as janelas, o que não é mau, pois assim somos privados das cantorias em rítimo macumbístico da "taquara rachada", mas, isso vem mais adiante.
Logo na porta de entrada do hotel avistamos um pequeno quadro de avisos com os dizeres escritos a giz amarelo "Almoço completo por R$ 8,00". Três andares malajambrados, decadentes onde nota-se ventiladores a toda velocidade balançando no teto (só de ver os ventiladores você já sente o calor) e gente descamisada numa sacada central que dá vistas para a praça, cassolas e cuecas entre outras peças íntimas ou não debhuçadas nos parapeitos das janelas, é o chique.
Do outro lado do pórtico adentrante um outro prédio verdelino de arquitetura um pouco mais recente onde funciona em seu andar térreo uma das tantas e tantas, e tantas óticas que atendem (modo de falar pois além de muitas, as óticas vivem as moscas). No primero pavimento dessa construção insossa funciona um templo religioso de denominação complexa e extensa, mas que tem o codinome de "Assembléia de Deus". Logo notamos que os ventiladores lá também funcionam a todo o vapor. Lugarzinho animado esse. Para continuar falando sobre o tal templo, tabernáculo e casa de festas, tenho que fazer uma ressalva, coladinho, lado com lado tem um prédio onde figura a data de sua construção que é de 1927. Neste prédio mais antigo que o outro, funciona uma agência bancária no térreo e acima um centro espírita. Não dá pra não pensar não é mesmo. De um lado um templo que "cuida" dos vivos, vizinho um lugar a couidar das "almas" e abaixo a morada da matéria em espécie.
Como dzia, a igreja está alí com suas paredes decoradas com bandeiras de países diversos e que funciona todos os dias, de segunda a segunda, quando chega a tardinha as janelas se abrem e começam os trabalhos. E que trabalhos, olha se existe uma gente que "ora, pois" e trabalha pra ganhar o reino dos céus é aquele povo. Principalmente a cantora que puxa o coro dos "desencantados e a serpente desafinada" como chamarei tal furdunço. A mulher é desafinada, sem ritimo, voz de taquara rachada, rádio mono mal sintonizado, pobre criatura, não ela, pois ela e os compaheiros de jornada não estão nem aí pro cantar siriêmico desafinadístico, gritante. Pobre de quem é surpreendido com tal misto de grito do Tarzam, chita, gemido de surucucú e o barulho do trem virado isso só pra dar uma idéia da cantoria pois na verdade pra desfrutar de tal momento só ouvindo pra crer que alguém possa ferir tanto os ouvidos como esta senhora é capaz. Creio que ela deveria gravar a versão gospel de "Tô nem ai". Quando ela começa a cantar tem um irmão que é o percussionista, e ele fica posicionado bem na janela que dá para a rua e fica ao lado do centro espírita. O danado toca atabaque, e lhe digo com certeza, com um toque daqueles, um marcação rítimica precisa e característica ou ele é oriundo do candomblé ou quer ir pra lá.
Com o passar dos dias notei que apesar de haver cantoria todos os dias, tem dias em que a cantoria e o batuque é mais forte, mais alto, mais marcado e o canto da taquara rachada é mais estridente. Isso me chamou tanto a atençao que fiquei a estudar o porque destes picos de latumia.
- SAI SATANÁS!
Coinscidentemente percebí que tais alterações sônicas se dão justamente nos dias em que o centro espírita realiza suas sessões públicas, as segundas e quintas, no mesmo horário e no mesmo bat-local.
Muito bem, "coincidências" a parte chego a ter pena dos velhinhos que se reunem em sua sede desde 1927, e que tem que enfrentar o furdunço desafinado de uns tempos pra cá. Mas quem manda ser espírita! Tem que ser resiguinado.
Disto tudo o mais surpreendente é ver o semblante assustado e surpreso das pessoas que transitam pela rua na hora da cantoria e o susto que levam ao serem intepelado pelo grito da puxadora. O pessoal fica meio atarantado meio que "perdidos no espaço" levantando a cabeça, procurando de onde diabos vem aquele som do cabrunco.
Já entramos na rua 7, agora vamos camihar mais um pouco e ai poderemos notar o comércio existente, como já disse, muitas óticas, mais óticas e umas outras óticas mais adiante, entremeando as óticas tem uns armarinhos, e lojinhas de lingerie (que não vejo ninguérm entrando) e tem uma loja de semi-jóias que tem como maior atração o ligar e desligar do alarme, por parte do seu dono, que me parece ter o maior tesão em ficar apitando aquele troço.
Talvez tal evento só perca para as duas gaiolas contendo um canário belga em cada que o dedicado ornitólogo folheante pendura e retira todo santo dia. Ah! Tem as atendentes, lembrei das garotas agorinha mesmo, são duas, jovens, magrinhas mas bem servidas, ficam o dia inteiro a varrer, passar o pano na loja e quando a guarda municipal passa é um acontecimento, os gualdas entram, sentam e proseiam sem pressa, as meninas sorriem para quebrar o tédio.
Depois vem mais umas óticas. Um comércio direcionado, creio que a rua sete poderia bem se chamar "Rua da boa vista", "Rua N.Sra. da Boa Luz" ou ainda "Rua Sta. Luzia" ou calçadão dos ceguetas, mas deixa isso pra lá.
Já na metade do primeiro trecho da rua 7 observamos também que por se tratar da região central, apesar deste fenômeno não se repetir na maioria das cidades, a rua 7 é bastante residencial, muitos prédios de apartamentos onde não mais os funcionários públicos exclusivamente residem mas toda a espécie de gente (principalmente os que gostham daquele meio ambiente). Tem um senhor aposentado que ouve jazz em alto e bom som, e de madrugada ele coloca sinfonias e música clássica, tem uma senhora que só se vê a mão dela passando roupa, a mão dela puxando as cortinas e por fim a mão dela fechando e abrindo as janelas. Nunca a ví mas parece que a conheço a tempos.Como ela vive passando ferro na roupa, toda vez que a vejo passando roupa lembro do título "Por falta de uma nova, passei o ferro na velha", vai ver que é este o caso dela. Falta de ferro. Certa feita movido por tal comportamento dessa senhora cgeuei a suspeitar que ela é a Taquara rachada que latumia na assembléia. Tem uma outra senhora que adora falar ao telefone e fumar na janela, me parece ser aposentada também e ao lado da janela dela tem uns rapazes que andam sempre desnudos (Aliás é um hábito entre os homens que frequentam as redondezas, seja onde for, criança, jovem, velho, o pessoasl adora exibir os bíceps, mesmo que seja nas dobras da barriga) da cintura pra cima e fazem umas festinhas animadas até altas horas da madrugada, com direito a gritinhos e muita risadagem.
Eles ficam na janela, por vezes os dois, outras vezes um de cada vez, fumando, olhando o movimento, falando alto no celular, com aquele ar de "perdidos numa noite suja" ainda não identifiquei se os dois são um casal ou é meramente preconceito meu. Tem o casal de velhinhos fumantes que ficam espreitando na janela, assim meio de soslaio e els vez por outra são incomodados pela vizinha de cima que quando resolve lavar as janelas derrama um aguaceiro e nem lhufas pra água que entra janela abaixo e o casal de velhinhos fecham as janelas as pressas para não ter sua cortina de veludo vermelha molhada. Mais acima tem o velhinho gordo e barrigudo, descamisado também, que adora ficar olhando a rua e discutindo com o povo que passa na rua. Incrível, ele bate boca com os passantes e vez por outra o vejo na padaria tomando seu café. Ou no barzinho, solitário olhando o movimento.
Olha só o que o barrigudo apronta quando tá de ovo virado:
- TÁ OLHANDO O QUE? (O velho)
- VOCÊ COM ESSA CARA DE BESTA!
- OLHA RAPAZ VOCÊ PARECE QUE NÃO BATE BEM DA BOLA! (O velho)
E assim dá-se o rápido diálogo.
E por falar em gente a fauna da rua 7 é riquíssima. Ouví dizer que o IBAMA tá pensando em montar um escritório na rua 7 especialmente para atender a biosfera local.
Tem uma figurinha carimbada, premiada que é habituee da rua 7. Luiz, ou luizinho (O tratamento depende da intimidade). Esse com certeza dá pra servir de pesquisa ou mote para um bom livro.
Um homem de idade indeterminada, a princípio parece um simples maltrapilho esfarrapado mendigo mas, não. Luizinho é figura conhecidíssima por todos que já passaram pelo menos uma vez em sua vida pela rua 7. Não é possível que você transite pela rua 7 sem que sua alma, seus olhos, ouvidos e olfato (que fedor) não sejam tomados, invadidos pela presença de Luizinho!
Geralmente ele está na soleira de uma loja fechada (creio que pra não incomodar), ele sua indefectível roupa preta de um godô característico, imunda e rasgada, fétida e mumística. Ao se aproximar da figura o transeunte desavisado poderá ter seus olhos tomados por um súbito interesse em detectar que espécie é aquela. Cabelos imundos, enrrolados quase que petrificados só faltando as mosquinhas ao rodear (depois eu descobrí porque as moscas não ficam rodeando o cabelo do Luizinho), o rosto bem como toda a pele dele é escura, coberta de placas pretas que logo se percebe que são crostas de sujeira acumulada e petrificada (Literalmente, Luizinho só toma banho, ou melhor se molha, quando chove), talvez um caso a ser estudado pela UFES para identificar como deu-se esta mutação epitelial, pois a impressão que temos é de que a pele do Luizinho absorveu a imundice e aquilo tornou-se uma coisa só.
Um capítulo especial são as unhas. Ah! Coisa rara, nem José Mojica, o famoso Zé do Caixão chegou a tanto. Unhas enormes, compridas retorcidas, de uma cor assim meio que marrom empretecida cheias de sujeira. Uma espécie de garra de Hárpia. O interessante, e isso é um espetáculo a parte é ver Luizinho coçar os cabelos encaracoladinhos (vou usar este diminutivo pra chocar mais) com as pontinhas das unhas. Seria tétrico se não fosse tão nojento.
Creio que ele tem algum tique ou problema neurológico pois fica o tempo todo tremendo os dedos num abrir e fechar altamente estranho.
Luisinho fuma. E está sempre acompanhado de uma misteriosa garrafa meio que encoberta por um saco de papel que eu não sei do que se trata mas pelo odor característico de alcool que exala, penso eu que deve ser isso mesmo. Alcool! Olha só o perigo. Luizinho, cigarro e alcool, o DETRAN, ou outro orgão competente deveria realizar uma blitz por estas plagas para fazer uma campanha sobre tal tema pro Luizinho.
Mais adiante eu me deparei com a figura, seu cigarro e a garrafinha e qual não foi minha surpresa quando ele gritou a plenos pulmões;
CACHAÇA! É cachaça, e por que não bebe-la (Em português claro e boa concordância).
Já que Luizinho foi apresentado devo agora descrever o mais interessante sobre tal figurinha. Seu comportamento.
Luizinho senta-se na soleira e fica calado por um longo tempo, contemplativo, observante. Lá pras tantas ele após muita observação e contemplação (acredito que isso deve encher o saco dele) resolve começar uma ladainha pornofônica característica que é composta principalmente pelas seguintes frases:
- VÁ TOMAR NO CÚ
- PUTA QUE PARIU
- BUCETA
- CARALHO
- PORRA
- DESGRAÇADOS
E a partir desta nomenclatura oficial ele faz algumas combinações, sem muita criatividade nem variação e discorre arreganhadamente em alto e bom (na verdade aos gritos) som sobre as partes íntimas e algumas implicações fisiológicas para a surpresa e arrepios de alguns passantes mais despreparados.
Isso ocorre invariavelmente todo dia na rua 7, pela manhã, a tarde e a noite. Basta o Luizinho querer animar a festa e dar a graça de sua presença.
Ele fica com o olhar fixo a frente e grita, berra e os que não o conhecem pensam que quilo é com quem tá passando, ai a graça, tem muita gente que reage!
- Olha o respeito rapaz!
- CARALHO!
- Você não está vendo que tem criança!
- VÁ PRA PUTA QUE PARIU CARALHO!
- Olha a minha mulher rapaz.
- BUCETA! PORRA...PUTA QUE PARIU.
Os que já privam deste deleite passam e gritam:
- Tá estressado Luizinho!
- PUTA QUE PARIU, PORRA!
- Alguém mexeu com você?
- ESSA BUCETA DA PORRA!
Outros mais respeitosos dizem apenas:
- Seu Luiz!
Ela fica impávido! Nem pisca. O maior desprezo.
E assim vai, dia a dia Luizinho e seu linguajar semi-erudito que encanta os passantes com sua intervenção no calçadão da rua 7.
Mais detidamente começei a observar Luizinho e até viajei pois notei que fora a linguagem chula e pornofônica, Luizinho articula bem as palavras usa os verbos e adjetivos ou seja, Luisinho em alguma época deve ter tido alguma educação formal. Outra coisa que começou a me chamar atenção é o cuidado que ele tem em não gritar tais atrocidades quando da presença de policiais militares ou da guarda municipal. Outro dia fiquei especialmente curioso pra ver qual seria o comportamento dele quando uma freira, sem hábito tracional, mas com um roupa e crucifixo característico de uma religiosa aproximou-se. Pensei qual seria a dele e como seria a reação da irmã!
Para minha surpresa, Luizinho parou de vociferar e respeitou a passagem da irmã sem pronunciar uma palavra sequer.
Mas, esporadicamente ele conversa!
Este diálogo reproduz um momento raro em que Luizinho se permite interagir com o mundo esterno e uma outra pessoa. Um senhor aproximou-se dele e o papo foi mais ou menos assim.
- (Luizinho) Tô precisando de 10 centavos.
- Você tá devendo na praça?
- Toda minha dívida é 10 centavos!
- Tá devendo 10 centavos a quem?
- Uma caixa de fósforos que e comprei.
- Tá bom, vou te dar os 10 centavos mas veja lá se não é pra comprar cachaça. Você bebe?
- Eu não! Beber faz mal ao estômago.
- É verdade, você sofre do estômago?
- Não! Meus estomago funciona muito bem, meu intestino também eu cago muito bem. (A pergunta que não cala é, ele caga onde?)
- Qur uma fruta? Eu compro umas bananas pra você?
- Não! Banana me dá azia...
Ele sabe das coisas. Ví quando a rua tava mais tranquila, ele sentado e passou uma jovem senhora do lado oposto a ele. Olha a pérola:
- ESSA BUCETA!
- ESSA BUCETA VAI E VEM!
A mulher fez que não era com ela, olhou de lado, cuspiu no chão e continuou.
- VOU PASSAR GILETE NESSA BUCETA!
Mas ja ví também em parcas ocasiões Luisinho dizer "United States of América" com boa pronúncia do inglês, e também presenciei ele falar de rua e locais da cidade de São Paulo o que me dá a impressão que ele a conhece bem.
E tem uma coisa interessantíssima! Ele não gosta de barulho, quando o barzinho da esquina tá cheio e tem som ligado (quase todos os dias até as duas da madruga) ele sente-se incomodado, e fica irritadiço e grita!
-DESGRAÇADOS, DESGRAÇADOS, DESGRAÇADOS!
Pra fechar com chave de ouro eu ví quando ele timidamente se aproximou de um lojista e perguntou:
-Tem 75 centavos ai?
-Não, tenho 1 real!
-Eu quero 75 centavos você vai me dar ou não?
Luizinho este patrimônio da rua7. Dá os seus cochilos de dia, e perambula pela noite e entremeia sua vida alegrando surpreendentemente a vida dos passantes.
Vamos caminhando.
Os porteiro do prédio são um caso a parte, vários senhores de idade, conversadores, sorridentes (Acredito que a dentadura que eles usam é tamanho GG) conhecem quase todos que passam e sempre tem alguma coisa a dizer, um comentariozinho, uma gracinha, tem um menos velho que usa uma farda característica, é uma camisa de listras azul escuro, meio desbotado e listras amarelas, dia sim e no outro também ele vem com esta fatídica camiseta. Quando nos encontramos ele sempre tem um assunto predileto comigo, o tempo!
- Hoje vai chover! (O porteiro)
- É parece que sim.
- Vai sim, ta muito quente, há 77 dias que não chove!
- É mesmo.
- Tá na hora de chover....
E quando ta frio é o frio, e assim por diante vamos mantendo nosso diálogo metereológico de tempos em tempos.
Tem o rapazinho da bicicleta, tipo entregador que todos os dias passa pela nossa rua 7, em alta velocidade desviando-se dos pedestres e recitando as escrituras em alto e bom som, é uma sensação apocalíptica. Não deixando de ser interessante.
- E ASSIM ESTÁ ESCRITO OS MORTOS SE LEVANTARÃO DE SUAS CATACUMBAS PARA RESPONDER PELOS SEUS PECADOOOOOOOOSSSS...
Ele deveria fazer parte do bloco "Cadê o bloco? Já passou".
Mais recentemente ele tem gritado constantemente:
- CORRUPTOS E SANGUESSUGAS QUERO TODOS OS POLÍTICOS NA CADEIA, VÃO MORRER! VÃO PRO INFERNO.
Mais uma figuraça.
Mais adiante, chegamos ao trecho final da primeira parte da rua 7, antes de cruzar a rua.
Este trecho não é menos importante ou interessante, passada mais algumas óticas chegávamos a uma pequena pizzaria (fechou) que era um primor.
A partir deste ponto tem um monte de mesinhas no meio do calçadão, que serviam para os clientes da pizzaria e servem ao barzinho que fica mais adiante.
Outro dia fui lá conhecer a casa (pizzaria) e fiquei estasiado. Primeiro pelo atendimento. O dono um senhor malamanhado, desalinhado e grosseiro, veio meio que a contra gosto me entregar o cardápio, resmungou alguma coisa incompreensível entre os dentes e deu as costas:
- Tem refrigerante diet?
- NÂO!
- Obrigado.
Depois de escolher chamei o dito cujo e perguntei se demoraria, ele disse que não, anotou o pedido e deu as costas. Em seguida pensei em fazer uma modificação, fui até ele temendo que o cara me destratasse. Ele etendeu, não muito satisfeito, mas atendeu:
- A massa é fina ou grossa!
- DEPENDE!
- Sim?
- Ô DONA MARIA A MASSA É FINA OU GROSSA?
- (Espeando)
- É DÁ PRA SAIR FINA!
- Não! Eu prefiro massa grossa!
- PORQUE NÃO DISSE LOGO!
- Pode ser ou tá difícil?
- É! PODE SER.
- Obrigado
Fiquei esperando por um longo tempo e começei a notar que tinha uma senhora, a cozinheira, outra mulher mais jovem, e uma terceira. Todas obesas.
Aquele tipo de obesidade mórbida engordurada. Notei então a razão, na pizzaria ele tem um pequeno balcão de sorvetes e as senhoras ficam o tempo passando em frente ao balcão, e o tempo todo comendo as coberturas, docinhos, balas que deveriam servir aos clientes, detalhe, pegam as guloseimas com a mão!
Com certeza não vou tomar sorvete alí.
Se tivesse mais disposto nem comeria a pizza.
Depois de quase uma hora e meia chega a tal pizza, engordurada que nem as donas, comí, paguei e disse adeus pra nunca mais voltar.
Chegamos então a primeira esquina, rua 7 com rua, no meio do calçadão tem uma banca de jornal de bom porte e no lado esquerdo o bar! É o "Bimbo", e como ele fica na esquina, e com um nome desses eu não poderia deixar passar o chiste "è bimbo lá e bimbo cá". Este bar é um fenômeno. O danado do bar abre de segunda a segunda de seis da manhã as duas ou tres da madrugada! Um fenômeno. Não que ele seja o bar mais movimentado do pedaço, mas tem sempre gente, tem sempre 3 a 4 mesas ocupadas e tem os habituês que marcam ponto todo dia os 3 horários. Se você passar pelo barzinho as 8 da manhã já tem uma turma tomando uma cervejinha, e assim vais até as 3 da madruga.
Se fosse só isso tava bom demais, mas tem a música, alta e variada ( bar tem umas caixas de som possantes sobre a marquise, serviço de alto-falante perde feio), um dia pode ser um hit da década de 80, outro dia pode ser um sambinha ou até mesmo "Amigos para sempre" com o José Carreras e a Monserrat Caballet. É um repertório eclético e alto. Creio que eles jamais ouviram falar numa tal de "Lei do silêncio" que obriga este tipo de estabelecimento a "baixar" o som depois das dez em área residencial. Ou então o aparelho de som não tem botão de volume, já veio assim, graduado no máximo de fábrica.
Fui lá outro dia comprar umas latinhas de cerveja, atendimento também de primeira!
-Tem latinha gelada?
- Tem!
- Quanto?
- R$ 2,50
- (Silêncio), fiquei pensando, deve ter algum erro.
- E ai?
- 2,50 uma latinha?
- Não! A GARRAFA!
- Ah! Bom, creio que me expliquei mal, eu quero latinha......
Não pude deixar de notar uma coisa que me chamou a atenção é a quantidade de clientes cotós, coxos e aleijados que frequentam o barzinho, com suas muletas, bengalas e sem braço, mas nem por isso deixam de se divertir, segurando habilidosamente os copos em seus côtos, até paquerar eu já presenciei o lance, só não sei se dá pra passar a mão na moça.
Curiosamente neste barzinho tem uma figurinha deveras interessante que é a Ya (O nome é fictício), uma menininha de uns 8 anos no máximo que diáriamente vem com um casal idoso andar em sua bicicletinha cor-de-rosa. A menininha é um raio da cilibrina, começa a andar ao cair da tarde e não para, é pra cima e pra baixo, num vai e vem constante que é de estarrecer. Os velhinhos que a trazem devem ser os avós, ficam sentados numa mesinha perto da parede e pacientemente ( a vó fica tomando uma cervejinha e o vê deve ter tido algum tipo de acidente vascular pois anda com muita dificuldade) observam o vai e vem da menininha, que fala com todo mundo, corre anda de bicicleta, logo Ya dá umas passadas nos pés do pessoal, batidas nas canelas e choques eventuais contra os passantes. Todos a conhecem, ela fala com todos inclusive com meu amigo porteiro metereológico.
Com toda certeza essa menininha daria uma boa garota propaganda da duracell, pois ela é movida por uma energia que duraaaaaaa.
Os avós são uma atração extra, a velha não tem a menor paciência com o velho e fica gritando, resmungando, dando órdens repreendendo ele a todo momento, sem nunca é claro esquecer da sua tulipa de cerveja.
Vez por outra temos o privilégio de receber a turma que desce do morrão com seus tambrins, taróis ou sei lá o que, que faz um algazarra desgraçada, isso seja qual for a hora, de preferência depois das 10 da noite.
E gritam!
E cantam!
E passam, e agente permanece.
Tem também a velha bêbada, que fica a dançar, ou bailar, como queira, importunando as mesas e ninguém reage, creio que é mais outra que tem seu livre acesso a este universo pararelo de convivência pacífica.
Eventualmente podemos contar também com a presença de uma senhora magra, esguia que hora pode estar trajando um vestido de algodão que mais parece um camisolão ou ela simplesmente pode aparecer num traje de veludo preto. Sua mumunha é conversar com as pessoas, ela se abanca ao lado de seja lá quem for, sem distinção de credo, sexo ou cor e manda ver, vai acompanhando a vítima, fala e já ví a dita cuja com o braço no ombro da pessoa escolhida numa romaria de proseio que atravessa toda a extensão da rua 7. Quando ela não está assim digamos, disposta a um bom papo, ela cata o lixo da rua. Mas não é um catar aleatório não! Ela escolhe, observa e sai carregando aquele monte de papéis e coisas que estão no chão. Outro habituee é o cara que toma todas e depois que fica no calibre começa a xingar, gritar, alterar e chamar todo mundo de covarde e grita:
- Cadê o macho da rua 7, quero ver quem tem coragem de me enfrentar!
As garçonetes do bimbo também são atrações, sempre muito simpáticas, meio lerdas ao servir e são...
...Obesas! Todas, creio que devem ser escolhidas a dedo.
Atavessamos a rua e continuamos nossa caminhada surrealista por este ambiente tão rico que é a rua 7.
Chegamos a metade do segundo trecho do calçadão, mais precisamente na pracinha, onde durante o dia um sem número de desocupados, mendigos e velhos com cara de aposentados dividem o espaço da simpática pracinha com senhoras e passantes. É aquí que Luizinho prefere tirar seu ronco de beleza, ao lado da turma de idosos que jogam damas o dia todo, lá se abanca Luiziho com a cabeça na soleira e o corpo meio inviezado na calçada dormindo o sono dos malucos beleza.
Quando chega a noite o negócio melhora na pracinha, por ela ter estratégicamente dois bares grandes que ocupam o calçadão e parte da rua com suas mesas e cadeiras a rapaziada chega pra tomar uns tragos, e a meninada vem pra praça jogar bola no campinho ou tocar seu violão, passear com seus cachorros, exibir seu peitoril marombado ou simplesmente namorar. Um dos bares tem uma mine feirinha em torno com ambulantes diversos que vendem espetinhos, bata frita, pastéis e outras iguarias. No barzinho que fica no calçadão o expediente é mais demorado, fecha ainda mais tarde que o bimbo e lá você encontra outra galera, o bar tem TV na rua, e lá dividem a audiência, homens, mulheres as mais variadas, casais e travecos. É um espaço bem democrático que fecha com chave de ouro o nosso percurso pelo calçadão da rua 7.
Creio que o descrito já seria suficiente para se ter uma idéia mais que exacta deste mundo maravilhoso e suas criaturas fantásticas, mas lembrei que os dias na rua 7 são movimentadíssimos como você pode perceber, mas as noites e principalmente as madrugadas não deixam de ter o seu charme.
Lá pelas 2 da madrugada vem a turma da limpeza!
Os garís com suas vassouras e pás de metal, silenciosas (pra não dizer o contrário) puxando seus carrinhos que fazem aquele barulho característico de ranger das rodas mal lubrificadas e o bater das pás ao deitar o lixo a ser transportado. Diria, um balé (ballet) quase clássico e com trilha sonora pela gritaria deles, o que é importante frizar.
E assim, nossos sonhos (pra quem tem este direito raro) fica sob a batuta dos garís.
Parece que tá bom né mesmo!
Tem o amanhecer.
O amanhecer durante a semana é incrível. Logo cedo tem um tal de desativar alarme de loja, sabe como é? Aquele barulhinho característico de alarme sendo desligado, identificou? Pois é todos os dias tem isso um tal de acionar e desacionar alarme que é uma jóia rara! Só que as vezes os alarme não atendem ao comando e, disparam!
- BLIIIIIIP!
- XEÊINNNNNN!
- PLINNNNNNNN!
- Tóin, tóin, tóin, tóin, tóinnnnnnnnnnnnnnnnnnnn!
Mas o responsável logo depois das sirenes serem acionadas consegue resolver o caso e pronto! Tudo resolvido. Isso pel manhã, até umas 9 e meia, pois tem algumas lojas que abrem mais cedo e outras vão abrindo mais tarde. Isso quando os tais alarmes não resolvem disparar em plena madrugada do fim de semana!
E por falar em fim de semana.
O amanhecer do domingo é especial.
Chega o domingo. Dia de descanso.
Dormir um pouco mais é o desejo de todo pagador de impostos, cidadão contribuinte. Qual o quê.
Tem um filho de uma donzela, que trabalha na no departamento de limpeza e autoriza ou comanda o caminhão de lavagem da Rua 7 a começar seu trabalho com seu motorzinho funcionando a toda potêcia, roncando mais do que pororoca do amazonas pra fazer a bomba dágua ter mais pressão, as 6 da manhã!
Bom eu já tô acordado mesmo só me resta ficar escutando de minha janela o papo construtivo, útil e erudito dos funcionários da limpeza pública.
Por isto a rua 7 é minha rua. Quando eu e os outros moradores finalmente morrermos, iremos diretamente pro céu! Pois o purgatório e o inferno, agente já conhece.
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