quarta-feira, 10 de junho de 2009

NOSSA SENHORA DA CASSOLA FROUXA!

Foi a esclamação que ouvi depois que o motorista do coletivo tirou um fino no pedestre que, diga-se de passagem estava na sua faixa (um pouco lerdo, meio lezado para o louco, doido trânsito do rio) e em seguida fez um golpe de vista que me fez lembrar uma música do João Bosco, e passou zunindo que nem o raio da cilibrina pela quina do outro coletivo parado, indo dar de frente (carioca tem esse negócio de ir dar...) com um carrinho que estava parado, meio atravessado adiante.

Gente olhando pra gente, com os olhos esbugalhados, gente rezando e se benzendo, velhinhas atordoadas senhores descambotados, meninos rebolando corredor (do coletivo) afora, mães desesperadas, gays despirocados e aquele clima de mifú! Pra todo mundo.

Baixado todos os cabelos arrepiados de todos os passageiros em todas as suas partes dos corpos! Continuamos o trajeto.

Aí a distinta senhora pede para baixar o frio do ar condicionado (era um frescão em todos os sentidos), gritando, mas sem perder a classe para a cobradora que repassa a reclamação para o motorista! O motorista que não é trouxa nem nada, resmunga alguma coisa meio chiada, meio grunida com aquele sotaque característico de motorista de ônibus, vocês sabem como é.
A distinta senhora não entende nada! Nem nós também. Mas todo mundo faz de conta que nem ta na cena, mesmo os que estão morrendo de frio, pois quem danado quer fazer uma desfeita ao ilustre condutor do coletivo.
A senhora não satisfeita levanta um pouco da cadeira e repete a reclama mais uma vez, agora gritando e apontando para o motorista!
Pronto, vai dar merda. Pensei.
O motorista com sua "crassi" total e carioquês da baixada (gente nada contra a baixada ouviu), responde:

- NÃO PODHIIIEEE! O BOTÃO TÁ CÔLAADO DE FÁBRICA!

Dito isto o esclarecedor motorista faz outra de suas manobras estratégicas de arrumação e entre socalavancos e freadas a pobre senhora quase cai no meio do corredor! A bendita senhora resmunga para lubrificar a chapa e senta-se permanecendo impávida como uma múmia o restante do percurso.

Eu me perguntei, ninguém mais vai falar nada?

Como se não bastasse, e em resposta a minha ousada pergunta eis que a cobradora que é Gaúcha, e tem 42 anos, 1,60 de altura, freqüenta a prainha, leva sua farofa sempre, mora em Jacarepaguá, é separada há seis anos, tem 3 filhos e paquerou metade da formação de motoristas, cobradores e de quebra o pessoal da administração da empresa. Ela pinta o cabelo, colocou unhas postiças e adora dançar. Já dançou com o neco, o Zezinho, o Pedro, Tonhão, e por ai a fora! Agora ela quer dançar com este impoluto motorista acima citado.

Como é que eu sei tudo isto?

A marvada da cobradora e seu sotaque gauchês incalacrado não parou de falar o resto do percurso! Como falava a danada. Foi só a senhora que não gosta de frio parar que ela emendou que nem cantiga de grilo.

A estas alturas eu já pedia a São Cristóvão pra que chegasse logo o meu ponto! Aquilo tudo parecia um filme surrealista francês.

Enfim chegou meu ponto, rapidamente desci e pensei... até breve.


Um comentário:

ESCRIBA disse...

ESTAVA EU AQUI UM TANTO QUANTO COMPENETRADA, ENVOLVIDA COM AS MINHAS PRODUÇÕES POÉTICAS, QUANDO
RESLOVI DAR UMA ESPIADA NO TEXTO NOSSA SENHORA DA CASSOLA FROUXA...
FOI INSTANTÂNEO O MEU TRANSPORTE PARA AQUELE TRANSPORTE COLETIVO...
FOI FACINHO FACINHO...COMECEI A DAR BOAS GARGALHADAS QUE NÃO PARAVA MAIS....MUITO BOM, MUITO BOM QUERIDO!!!VC COM SEMPRE DE UM PONTO FAZ UM CONTO!BEJOK