Tudo vale a pena se a alma não é pequena
Já dizia o poeta Fernando Pessoa!
Essa frase sempre foi uma das minhas predilectas em minha estada na linda Lisboa e no meu (?) saudoso Portugal.
Todo mundo que me conhece sabe de minha brasilidade, devo dizer que a força e a forma que este sentimento enraizou-se foi em muito pelas vivências em Portugal, e noutros cantões do velho mundo, lá em Lisboa casa fora de casa, onde um povo que nos deu em parte um pouco (ou muito) de sua alma de poetas, nos explica a formação de nosso caráter multicultural, multirracial, multinacional.
Que bom se pudéssemos todos ir vez por outra a terrinha, mas na falta dela vamos a CADEG no Cantinho das Concertinas do Carlinhos, comer sardinhas deliciosas na brasa com carne de porco, bolinhos de bacalhau e vinho, isto pra quem estiver ou vier ao Rio.
O caminho não é difícil, se eu que não conheço bem os caminhos e descaminhos das vias cariocas digo isto imagine pra quem vive. Arme-se de sua alma desbravadora e descubra um programa que nem todo carioca conhece ainda e vale sim a pena viver.
Então quem tiver preconceitos e neuras dispa-se (no sentido figurado) e mande bala (idem). A CADEG é um grande centro de abastecimento do tipo COBAL ou similar, só que num bairro mais popular que é Benfica. O negócio é você ir por São Cristóvão em direção ao estádio do glorioso Vasco da Gama e lá é só baixar o vidro e as defesas (não todas) e perguntar, pois o povo é altamente amistoso, simpático, respeitador e gentil.
Chegando na CADEG (isso é importante dizer tem que ser no sábado) você pode estacionar em frente ou dentro, que tem um estacionamento bem mais amplo, é só perguntar outra vez que fica fácil.
Uma primeira dica; chegue por lá tipo assim pelas 10 da manhã e vá direto pro bar do Carlinhos, que fica no final dos pavilhões bem pertinho do estacionamento. Pegue logo umas fichas pra comer os mais deliciosos bolinhos de bacalhau (mesmo) que já saboreei em toda a minha vida, hummmm..... Só de lembrar me dá água na boca, o bolinho de bom tamanho feito de bacalhau mesmo, com ovos e cheiro verde, sem farinha de trigo é de endoidar. Esse negócio de chegar cedo é porque se chegar tarde, depois das 12h você nem encontra mais lugar pra sentar e também não consegue ficha para comer os deliciosos bolinhos.
Bom, agora vou fazer uma paradinha, breque!
Vá de coração aberto pra bagunça, seja tolerante com a falta de organização e o fuzuê, coisa de portuga mesmo, aquela zona escalafobética, mas que funciona. Uma gritaria dos diabos, uma musiquinha portuguesa tocada na concertina sem parar, acompanhada de pandeiro e um reco-reco (gigante) de bambu e um povo a cantar umas coisas tidas como “folclore” que você não conhece mesmo, não entende de jeito nenhum, mas com o passar do tempo aquilo fica zunindo dentro das oiças até o negócio se tornar familiar.
Ai você descobre que sempre escutou aquela musiquinha danada e até chega a lembrar que sua mãe cantava pra você quando “eras um miúdo ó pá!”.
Voltando a bagunçolândia, digo ao bacalhau do Carlinhos, procure ficar amigo logo do garçom que vai lhe atender, se possível chame ele pelo nome, procure sentar numa mesa, senão ele não abre uma comanda e aí você tem que entrar noutra fila dos diabos pra comprar uma deliciosa cerveja “CINTRA!”, e então! Mas no final tudo dá certo.
Outra coisa é o calor! Se for verão vá bem a vontade, roupa leve pois o negócio é a filial do famoso "buraco quente".
Os petiscos são todos acesíveis, preços módicos, mais outros menos, em porções generosas que em pouquíssimo tempo até a mais esfomeada das criaturas fica empanturrado com tanta comida. Sim e tem o delicioso vinho verde importado directo da terrinha, uma garrafa de um litro de um autêntico vinho verde português.
Olhe, é coisa de endoidar. Resolví ir, motivado por uma reportagem de O GLOBO, mas na realidade, apesar da reportagem ter sido muito boa, só se tem uma real idéia, indo.
Outras opções do lugar são as lojas que vendem em grosso, de tudo um muito.
Secos e molhados em geral, dá pra fazer a feira e num preço bem abaixo dos supermercados. Quem quiser comprar bebidas o sortimento é ótimo e tem as flores e mudas. Maravilha.
O negócio começou já tem muitos anos, inicialmente o Carlinhos fornecia o almoço da rapaziada que faz o trabalho de carga e descarga e dos patrícios que foram ano a ano se ajuntando em torno da deliciosa bagunça organizada e com suas concertinas foram fazendo o cantinho, e hoje já vão cariocas e brasileiro de todos os cantos do país se deliciarem com o recanto mais Português do Rio maravilhoso de Janeiro.
Esse é mais um dos pitorescos aspectos de se viver, mas, viver realmente no rio, poucos cariocas fazem este tipo de programa. Na sua maioria por medo, pressionados pela pesada campanha terrorista vigente ( que infelizmente é real) e “empurra” o carioca para os shoppings e o consumo plastificado.
Mas isto já é outra conversa.
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